Pesquisadores utilizam cascas de laranja para fazer tecidos, plásticos e purificar água poluída
O delicioso e nutritivo suco de laranja é apreciado por milhões de pessoas em todo o mundo mas sua casca geralmente é jogada no lixo. E se pudéssemos criar novas utilidades comerciais para essa matéria prima tão abundante?
Pesquisadores desenvolveram métodos de transformar a cascas de laranja num novo tecido, bioplástico e para remover os metais pesados em água poluída.
Os produtos químicos encontrados nas cascas de laranja podem ser usados como novos blocos de construção em produtos que vão de plásticos ao paracetamol, ajudando a quebrar a nossa dependência do petróleo bruto. A sociedade de hoje é totalmente dependente dos produtos químicos e materiais que são obtidos a partir dos combustíveis fósseis.
Como tal, há um crescente interesse global em desenvolver matérias-primas químicas renováveis a partir de uma variedade de fontes sustentáveis, como cana de açúcar e ácidos graxos na produção de biocombustíveis.
Mas os óleos essenciais quimicamente ricos contidos nos resíduos de frutas cítricas são outro tipo de fonte que está sendo investigado. Isso é promissor pois na indústria de suco de laranja, quase 50% do fruto é jogado fora. Isto cria uma oportunidade real para desenvolver uma oferta sustentável de produtos químicos a partir das cascas.
Limoneno – um bloco de construção versátil
Números recentes estimam que cerca de 20 milhões de toneladas de frutas cítricas são desperdiçadas a cada ano. Cerca de 95% do óleo extraído das cascas é constituído por moléculas de limoneno , um hidrocarboneto líquido incolor conhecido como C 10 H 16 , e este desperdício poderia produzir cerca de 125.000 toneladas de limoneno por ano. Mas por que o limoneno é tão útil?
Como um hidrocarboneto simples, ele compartilha muitas semelhanças com os produtos químicos que obtemos a partir dos combustíveis fósseis. Portanto, a tecnologia que usamos atualmente em insumos petroquímicos podem ser usados diretamente no limoneno para transformá-lo em produtos úteis.
Plásticos biodegradáveis
Talvez o maior potencial de limoneno é como um bloco de construção para a indústria de polímeros. Os químicos estão sempre à procura de novas maneiras de unir moléculas em longas cadeias de polímero para que possam ser utilizados em uma grande variedade de produtos, tais como fibras de polipropileno que utilizamos em tapetes, ou polietileno para fazer garrafas de plástico.
Para resolver este problema dos resíduos da laranja, a empresa israelense Tipa Corp criou um novo plástico biodegradável como alternativa viável as poluentes embalagens plásticas feitas de petróleo. A Tipa cria embalagens de plástico que são sustentáveis, não só em seus processos de produção, mas também na própria embalagem que se decompõe na terra da mesma forma que uma casca de laranja.
As embalagens biológicas são 100% compostáveis e tem propriedades mecânicas e de durabilidade semelhantes ao plástico comum. Veja mais detalhes aqui.
Fibra de laranja
A Startup italiana Orange Fiber utiliza os resíduos de citros, um subproduto da indústria de suco italiana para produzir fibras têxteis de alta qualidade com um baixo impacto ambiental. A Sicília tem uma grande produção de suco de frutas cítricas, que a cada ano também deixa cerca de 700 toneladas de resíduos.
As duas co-fundadoras da Orange Fiber, Adriana Santanocito e Enrica Arena, viram o potencial nisso e desenvolveram um sistema onde o bagaço da laranja, um subproduto da indústria de suco da Sicília, se tornam fibras de celulose de alta qualidade.
A nova fibra da Orange Fiber representa uma oportunidade para se fabricar tecidos de alta qualidade “Made in Italy” para moda e decoração sem a concorrência chinesa. A nova fibra de laranja não só é sustentável, pois utiliza os resíduos da laranja que eram jogados fora, mas também é benéfica para a saúde, pois libera pequenas quantidades de óleo cítrico e vitamina C na pele ao longo do tempo, deixando a pele macia e hidratada segundo as pesquisadoras Adriana e Enrica.
O projeto da Orange Fiber foi premiado no Global Change Award 2015, um evento criado pela Fundação H&M para premiar as 5 melhores tecnologias disruptivas sustentáveis para a indústria da moda. A cadeia de fornecimento da fibra de laranja passa pela fiação, tecelagem e acabamento, contribuindo para a prática da moda sustentável e o desenvolvimento econômico, social e ambiental da Sicília.
Essa tecnologia oferece a oportunidade de satisfazer a necessidade crescente de celulose para a indústria têxtil, preservando assim os recursos naturais. Este processo reutiliza resíduos, economiza terra, água e poluição ambiental.
Cascas de laranja para remover metais pesados em água poluída
Pode haver uma nova maneira de utilizar os resíduos das cascas de laranja. Pesquisadores desenvolveram um método de usar as cascas para remover metais pesados de águas poluídas. A pesquisa foi realizada por cientistas da Universidade de Granada na Espanha, juntamente com cientistas do México.
Em primeiro lugar, as cascas são desidratadas utilizando um tratamento de secagem a vácuo, após isso elas são submetidas a um tratamento químico próprio. Como resultado, a sua porosidade e a área de superfície aumenta. Estão em seguida são granulados.
Em testes de laboratório, as cascas tratadas foram colocadas em colunas (ver diagrama acima), onde elas absorveram da água contaminada, metais pesados como o cobre que foi bombeada através delas.
“Os resultados mostram um grande potencial para o uso dos referidos materiais como adsorventes capazes de competir com carbono ativado comercial para a absorção e recuperação de metais presentes em águas residuais”, disse Romero Cano, um membro da equipe da Universidade de Granada.
“Pode ser possível levar a cabo processos sustentáveis em que produtos com grande valor comercial poderiam ser obtidos a partir dos resíduos da indústria de alimentos.” Um artigo sobre a pesquisa foi recentemente publicado na revista Industrial Crops and Products.
Quantas novas tecnologias e empresas poderiam surgir utilizando como matéria prima os resíduos agrícolas e industriais que produzimos anualmente e que vão parar nos aterros? Essa é a maravilha da economia circular, que transforma o que é tido como lixo em novos materiais.
Fonte: Stylo Urbano
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